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Os Textos que Fugiram do Papel

Os Textos que Fugiram do Papel são pedaços de mim que quiseram nascer para o mundo.

Os Textos que Fugiram do Papel

08
Mai25

A história que não escrevi

Pedro Azevedo

Era de noite. Tinha-me deitado há umas horas, mas a cabeça fervilhava de ideias e dormir era a última coisa que me apetecia. Nem sabia quanto tempo faltava para o despertador tocar. Estava com demasiado medo para enfrentar a realidade. Então fui para a sala e preparei-me para escrever. Sempre era mais produtivo do que andar de um lado para o outro na cama.

Na mesa da sala, uma garrafa de vinho vazia. Talvez a culpada desta insónia.

Mudei-me há pouco tempo e, por isso, qualquer movimento ecoa pela casa. É como se a sala se enchesse de vozes que não existem. 

Todos os dias compro umobjeto novo. A casa, aos poucos, vai ganhando vida. Hoje foi um cacto. Um pequeno cacto, ou melhor, uma suculenta, que coloquei em cima do móvel. A base é preta e a suculenta tem uma pequena flor azul. Tinha lido que o azul é a cor mais bela da natureza, devido à sua raridade, e esse facto sempre me interessou. Quando vi a suculenta com uma flor azul, soube que tinha de a comprar. Não minto quando digo que fiquei desapontado ao descobrir que era artificial, mas deixei-a ficar na mesma.

Até comprei um pequeno livro sobre como cuidar dela, que li enquanto jantava. Agora serve de base para a própria planta — o ciclo final de um livro.

Naquela sala só tinha um pequeno sofá de dois lugares, um móvel onde mora a minha suculenta, cujo azul, de tão artificial que é, brilha. Nunca tinha visto nada assim. Afinal, talvez seja mesmo especial.

E, claro, a mesa onde estou agora.

Estou sentado numa caixa. Lá dentro há uma estante por montar, que ainda não montei porque, neste momento, tem outro propósito: ser uma cadeira.

Mais tarde, será uma estante. Até já sei o que quero colocar em cima: os meus livros favoritos e uma planta, talvez daquelas que ficam pendentes. Sempre gostei de as ver, à procura do chão, a quererem fugir da prisão que o vaso lhes impôs. É uma tentativa de fuga à vista de toda a gente.

Sabia perfeitamente sobre o que queria escrever: a história de um pescador que gostava de ficar parado, a olhar para o mar, que nem colocava isco no anzol, apenas queria sentir a brisa e a calma que o mar transmite. Mas precisava de uma desculpa para o fazer todos os dias.

Mas no momento em que ia começar a escrever, o despertador tocou.

Suspirei fundo e voltei para o quarto, para me preparar para um dia que ia ser muito complicado de se passar.

 

A casa é pequena. Do meu quarto vê-se perfeitamente a sala. Conseguia ver o móvel e a suculenta, agora com o seu brilho mais intenso.

O azul preenchia o espaço. Ao início não liguei muito, achava que era do sono, mas passado algum tempo a luz azul já tinha chegado ao meu quarto.

A luz pulsava, como um batimento cardíaco.

Fui até lá devagar e, à medida que me aproximava da sala, o meu coração batia mais depressa. E a luz vibrava ao mesmo ritmo, como se partilhássemos o mesmo corpo.

A luz da planta era tão forte que mal a conseguia ver. Só via os seus espinhos, refletidos na parede.

Quando estendi a mão para lhe tocar, a luz tremulava cada vez mais. O ar ficou mais denso, e a luz emitia um pequeno som, que naquela sala ecoava imenso. Quanto mais próximo estava da planta, mais alto o som ficava. E, quando finalmente lhe toquei, o impacto foi imediato.

A luz ficou tão forte que fui obrigado a fechar os olhos. E, quando os abri, a luz tinha-se expandido. Tinha tomado conta de tudo. O chão desapareceu, a sala já não existia. Só a luz e o seu som, desta vez sem eco.

E, por um período de tempo, fiz parte dela.

Senti o seu pulsar, o seu frio. Estava dentro de uma luz.

Até que uma voz sussurrou ao meu ouvido:

Volta. Já estás a olhar para o mar há muito tempo.

E a luz dissolveu-se no azul do oceano, e o som que transmitia transformou-se no bater das ondas

E ali estava eu, sentado a olhar para o mar, perdido dentro da história que ainda não escrevi.

22
Mar25

Entre Instantes

Pedro Azevedo

— Estás quase? Quero ir — perguntou, já um bocadinho impaciente.

Suspirou antes de responder, já um pouco farto, e disse:

— Podes ir quando eu acabar. Se te calares, pode ser que eu acabe mais depressa.

Ele revirou os olhos.

— Também não precisas de responder assim. Claramente, quem está mal sou eu. Posso queixar-me um pouco.

Novo suspiro.

— Pagam-me para trabalhar, não para falar com pessoas.

Fez-se um longo silêncio.

— Veio muita gente?

— Não muita.

— Hum… — murmurou num tom desanimado. — Porque é que não me lembro de nada? Aconteceu tudo há poucos minutos, é estranho.

— Porque não é suposto. Seria uma memória muito má, veres as pessoas que mais gostam de ti a sofrer dessa maneira.

— Há uma parte de mim que gostava.

— Eu sei, toda a gente acha isso, mas acredita que ia ser pior.

— O que posso fazer?

Ele riu-se.

— Nada. Não podes fazer nada.

— Ui! Ouvi um sorriso?

Não obteve resposta.

— Gostas do que fazes? Não me imaginava a fazer…

— Gosto. Conheço imensas pessoas e ouço imensas histórias. Normalmente, só fico a ouvir e, no final, digo “aproveita” e vou-me embora. Nunca falei tanto com alguém como estou a falar contigo. Honestamente, nem sei se posso.

— Se isso é falar tanto…

A manhã tinha sido de chuva, mas, naquele momento, o sol brilhava no meio das nuvens.

— Está imenso sol. Consigo ver daqui.

O suor caía-lhe da testa quando respondeu:

— Sim, decidiu aparecer. E está quente.

— Isso já não consigo sentir… mas sinto-me bastante mais calmo. Obrigado por esta conversa, devias fazer isto mais vezes. Sinto-me bastante mais calmo.

— Não me digas o que fazer.

— Pronto, já voltaste a como estavas no início.

Novo silêncio.

— Deixaram-te aqui uma garrafa de vinho.

— Qual é?

— Dez Tostões, tinto.

— Podes ficar com ela, fica como agradecimento por isto. É o meu vinho preferido. É um gesto bonito terem deixado uma garrafa — disse com uma lágrima a cair.

— Poucos, mas bons. Agradeço a garrafa. Deixaram-te flores também.

— Não me digas que também queres uma flor.

— Engraçadinho.

— Estás quase, não estás? — disse, ligeiramente assustado.

— Estou.

— E depois?

— Depois não sei, nunca estive onde tu estás. Acredito que seja bom.

— Espero mesmo que sim.

— Agora já acabei.

— Espera! Ainda não. É mesmo só mais um bocadinho… é que ainda vejo um pouco de luz.

O coveiro meteu o último pedaço de terra e disse num tom calmo:

— Aproveita.

Agarrou na garrafa de vinho e foi-se embora.

E o morto, quando ficou totalmente escuro, fez um último suspiro e fechou os olhos pela última vez.

16
Jan25

“Hoje Morria”

Pedro Azevedo

 

Sim, é verdade.

Hoje morria, nesta bela quinta-feira, o sol esteve bastante presente, onde, apesar de ser inverno, parecia um dia de primavera. Até as pessoas estavam com sorrisos e com a calma característica dessa bela estação. Pelo menos no jardim, as crianças brincavam, os cães corriam, até borboletas haviam a encantar o ar com a sua beleza. 

Ficou a sensação de um dia bem passado e, por isso, era um belo dia para me pores um ponto final. E desculpa, mas tens de ser tu. Nunca soube fazer bem isso; pode ficar marcado como o meu ponto fraco.

É engraçado que hoje é dos dias em que me sinto menos depressivo, mas agora, ao parar o carro à porta de casa, fechei os olhos e, ao ouvir a música que tanto aconchego traz aos meus ouvidos, pensei que podia ser hoje. Mas não neste preciso momento. Peço-te esse pequeno favor: pode ser depois de tomar um banho e vestir uma roupa quente. E, se não for pedir muito, ainda quero beber um copo de tinto em frente à televisão. Pode ser aí. Não me importo de morrer com a curiosidade de saber se ela ia ganhar a montra final ou não.

24
Nov24

A Folha em Branco

Pedro Azevedo

 

A folha estava novamente em branco; a caneta teimava em não escrever.

Olhava para todo o lado à procura de inspiração; nem a chuva a bater na janela ajudava. A luz do candeeiro estava perfeita, o quarto estava arrumado e até tinha um maço por abrir. Estava no paraíso de qualquer escritor, pelo menos, achava eu no meu imaginário. Só faltava um copo de tinto, e foi isso que fui tratar.

Na sala, estava a minha mãe com as amigas dela. Estavam no clube de leitura delas, que, neste caso, mais parecia uma prova de vinhos. Na mesa, havia mais garrafas do que pessoas, imensos queijos e, entre risadas e leituras, lá estavam elas no seu paraíso. O livro era O Velho e o Mar, um clássico. Mas eu não podia estar ali; na minha cabeça, só pensava que tinha de voltar para o meu suposto paraíso. A Célia disse:

— Pedro, senta-te aqui ao meu lado, prova este vinho.

Após alguma consideração, aceitei. Afinal, se precisava de inspiração, acho que é um grupo de leitura com seis mulheres de meia-idade que a ia buscar.

O vinho que me foi oferecido a provar era um Corte de Cima, o homenagem ao Hans Christian Andersen. Ela disse que eu ia adorar, e a minha mãe concordou. Elas já estavam muito animadas; o objetivo delas já era conseguirem ler duas linhas do livro sem terem um ataque de riso. Só digo uma coisa: hilariante. Naquela sala havia muita vida, muitos risos, muito vinho e pouca leitura. O meu pai estava com os maridos delas; disseram que também iam para o clube de leitura, que era num bar de snooker ali no fundo da rua.

Enquanto a Célia me servia, disse-me:

— Sabes o que era giro, Pedro? Pode ser que um dia seja um livro teu que estejamos aqui a ler.

Soltei um sorriso e respondi:

— Coitadas de vocês! Passar de um Hemingway para uma coisa escrita por mim é uma grande queda, e isso, na vossa idade, é um perigo! Elas riram-se.

Chegou a hora de provar o vinho. Balancei-o no copo antes de o provar, levei-o ao nariz e, finalmente, dei um golo. E digo que aqueceu muito bem a voz e, logo de seguida, o corpo. Senti uma calma dentro de mim, no meio do barulho. Ali estava eu, em paz.

Que belo vinho. Uma sensação única de sabor, bastante complexo, mas com uma bela suavidade e equilíbrio. O copo esvaziava-se rápido, mas voltava a ser enchido com a mesma rapidez. E assim foi durante as horas seguintes.

Hoje era dia de acabar o livro; faltavam só duas páginas. Como eu era o mais sóbrio delas todas, fui encarregado de conduzir este caminho até ao final do livro. E lá o fiz. Coloquei bem a voz e comecei a ler. Já no fim, antes de dizer a última frase, dei mais um golo no vinho e disse a frase que faltava:

— “E o velho sonhava com leões.”

E fechei o livro.

E foi assim que acabou esta edição deste belo clube de leitura, porque, logo de seguida, entraram eles com as bochechas tão vermelhas como as delas. Naquela sala havia ainda mais vida e animação, uma harmonia de amizade. Ficaram todos para jantar. Fomos buscar frango assado e abriram-se mais algumas garrafas de vinho. O dia tinha passado assim, e eu só tinha ido buscar um copo.

Quando voltei para o quarto, a folha continuava em branco. Achava que ia chegar e o texto estaria feito, mas nada disso. Sentei-me e estava pronto para escrever. O texto está longe de ser uma obra-prima; aliás, é este que estão a ler agora mesmo. No entanto, fiquei bastante motivado para o futuro, porque, se um dia um livro meu estiver a ser lido neste belo clube de leitura, aí sim vou dizer que encontrei o meu paraíso.

31
Ago24

A Mesa dos Crescidos

Pedro Azevedo

A família estava reunida, dividida entre duas mesas, a dos adultos e a das crianças. O dia era de grande importância para mim, porque finalmente, após todos estes anos, e de várias tentativas fui finalmente promovido à mesa dos crescidos!

A primeira garrafa de vinho foi aberta, como dita a nossa tradição, foi o vinho ‘Azevedo’, um vinho seco, mas suave, um bom verde para acompanhar as amêijoas e os percebes que enfeitavam a mesa, sem faltar, obviamente, as fatias de pão torrado para molhar no molho das amêijoas, das melhores coisas que se pode pedir. 

No forno, o borrego ainda estava a dar os últimos toques no seu processo de bronzeamento.

Na televisão, o noticiário, mas mal se ouvia com o barulho que havia, todos nós a falar ao mesmo tempo, com conversas paralelas, mas de certa forma até se entendia. Na TV, uma notícia em relação ao Chega, e o meu tio, firmemente, diz: “Este senhor, sim, vai mudar o rumo de Portugal!” O que causou uma discórdia na mesa, onde deixaram de haver conversas paralelas e todos se focaram numa só pessoa.

“O que querem, ele tem coragem de dizer as verdades!” Disse ele num tom exaltado. “Ele diz verdades com mentiras, é mais ou menos como tu, por isso é que gostas tanto dele,” e esta foi a minha frase de abertura na mesa dos crescidos. Digamos que ele não gostou muito, e gerou uma discussão enorme. A minha mãe defendia-me, a mulher do meu tio, já tocada, enchia novamente o copo enquanto chorava, os cães ladravam, as crianças estavam assustadas, a minha avó desligou o minisom, e com o passar dos minutos eu já estava bastante distante desta discussão, onde já se falava de problemas do passado.

Avancei para degustar o próximo vinho do almoço, desta vez um tinto, um belo Herdade da Bombeira Syrah, cuja suavidade contrastava com o ambiente de euforia que se fazia sentir naquela mesa. Mas a discussão ia piorando e já estavam todos contra o meu tio. Ele, de forma bastante brusca, e ao levantar-se, partiu um dos pés da mesa e tudo caiu… vinho no chão que fez parecer uma cena de crime, uma autêntica confusão. 

Quando isso aconteceu, houve de imediato um silêncio, a famosa ‘calma depois da tempestade’. Ele percebeu o que fez, respirou e pediu imediatamente desculpa, mas nós nem ligámos muito. Da mesa onde estávamos, dava para ver a cozinha, e espantados, vimos uma nuvem de fumo sair de lá, e ficámos sem reação até que a minha mãe disse: “Humm, isto é capaz de ser chato.” Fomos todos a correr para a cozinha, e lá estava ele, o borrego, completamente queimado.

Estávamos sem borrego, a sala estava uma lástima, era vinho, água, batatas ti-ti espalhadas pelo chão que, apesar de termos limpo o chão e a mesa ela não deixava de estar partida. As desculpas do meu tio foram aceites por todos, e ele até disse que estava a brincar, e que não acreditava naquilo que tinha dito e que a piada foi de mau gosto. De frisar que, na altura, a família não estava a passar por uma fase muito fácil e, por isso, percebemos, todos nós exagerámos bastante e até nos rimos do que aconteceu.

Mas a barriga já pedia comida, e por isso pedimos pizzas. E elas lá vieram, e comemos todos juntos, em família, novamente no sitio de onde tudo começa… na mesa das crianças.

24
Ago24

UMA NOITE NO ROLHA WINE BAR 

Pedro Azevedo

 

UMA NOITE NO ROLHA WINE BAR 

Foi com entusiasmo que fomos em direção ao Rolha Wine Bar, algo que já ansiávamos em ir nestes dias que passamos neste nosso belo Algarve, e como o bar fica na localidade de Porches, é ótimo para fugir da confusão típica da zona nesta altura! 

Fomos muito bem acolhidos neste recanto de vinhos e comida, a decoração é simplista, mas funciona muito bem

Estava um calor horrível e o relógio já marcavam 20:30, já estávamos com as bochechas vermelhas e ainda não tínhamos bebido nada. 

Mas vamos ao que interessa, a comida e a bebida, para fazermos a cama no estômago decidimos começar com uma tábua de queijos e enchidos, os chouriços de porco preto e os queijos fizeram uma combinação maravilhosa, ainda mais quando nos trouxeram uma compota de figo que meu deus, eu acho que fui ao céu e voltei, e foi tudo acompanhado com o primeiro vinho da noite, esse com o seu nome de Crazy Javali.

Crazy Javali

Castas - Tinta Roriz, tinta Barroca e Touriga Franca

11% 

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E este vinho é que foi entrar com o pé direito, foi-nos apresentado como um vinho leve, algo perfeito para refrescar e fazer frente ao calor que se fazia sentir, acompanhou bem a tábua de queijos e enchidos, criando uma bela harmonia de sabores na boca, um sabor leve a morango algo que estranhei no inicio mas que rapidamente entranhei. 

Um vinho que no copo fez uma excelente evolução. 

Gostei muito deste vinho, é sem dúvida um bom vinho para se ter em casa, para quando há aqueles desejos de “apetece-me beber alguma coisa diferente.”

E como o que é bom acaba depressa, o vinho acabou rápido, o empregado logo que reparou que já estávamos sem vinho, gentilmente trouxe outro ainda para casar com as entradas, desta vez um vinho da zona, com a sua dela casta nativa, a Negra Mole.

Negra Mole - Paxá 

Castas - Negra Mole

12,5%

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Este foi apresentado como outro vinho leve, bastante aromático, e servido bem fresco. Para mim, foi uma das maiores surpresas da noite, uma das… porque a maior foi o facto de eu ter conseguido sair do bar pelos meus próprios pés! 

Este vinho é a prova de que no Algarve também se faz excelente vinho, e esta casta Negra Mole tem-me vindo a conquistar cada vez mais. 

Copo vazio, as travessas das entradas vazias, estava na hora dos pratos principais! 

A carta muda todas as semanas, nos escolhemos ovo com farinheira, codorniz piri piri, muxama e um toucinho de porco preto de monchique, era impressionante como estava tudo 5 estrelas, onde cada garfada que metias na boca ias buscar texturas e sensações diferentes, e para acompanhar tivemos o prazer que ser acompanhados por dois vinhos.

Moinho do Gato — Quinta do Romeu

Castas - Tinta Barroca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca e Sousão

12,5%

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Aqui já estava alegre, noto que já estou a ficar alegre quando o intervalo que peço para fazer brindes ficar cada vez mais curto

Mas o brinde com este vinho deixou um pouco a desejar, a apresentação onde nos levaram a conhecer a origem desta casa e toda a sua história foi melhor do que o próprio vinho, que era leve, mas um pouco seco para o meu gosto, que na boa deixa a desejar e a evolução no copo não foi das melhores.

Sem dúvida que é um vinho diferente, e não deixa de ser uma boa experiência, mas acho que ainda não cheguei a este nível.

O empregado perguntou o que tínhamos achado do vinho e fomos honestos, ele lançou um sorriso, e disse: “Ainda bem que estamos a falhar, quer dizer vamos chegar a bons sítios”, e logo de seguida trouxe o próximo vinho. 

Javali

Castas - Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinto Cão

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A minha boca ardia, aquela codorniz piri piri estava a dar cabo de mim, e este vinho foi a salvação à tortura de picante que estava a ter na boca, mas sendo honesto da prova foi o que menos gostei, gostava de o provar novamente numa noite fria de inverno, achei-o um pouco pesado e assim sem grande personalidade e não combinou bem com a noite de calor que se fazia sentir, mas acho mesmo que estou a ser injusto com este vinho. 

E que bela refeição que foi, adorei cada segundo da experiência gastronómica até da luta que travei com o picante, sinto que as pessoas à minha volta adoraram ver a minha cara de puro sofrimento, por isso de nada pelo espetáculo. 

E tinha chegado a hora da sobremesa, e como era de esperar, foi-nos servido um vinho, um vinho que finalizou este refeição da melhor forma, onde todos nos dissemos, “era mesmo isto que faltava”.

Rosa Duck - Pet Nat

Castas - Baga 

10.5%

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E foi a melhor sobremesa que podia ter pedido, este para mim foi de longe o melhor da noite, bastante saboroso e surpreendente! 

As bochechas, duplamente já vermelhas que o digam, fiquei mesmo apaixonado. 

Depois da degustação foi hora de levantar e aí é que senti o efeito destes vinhos todos, optámos por ficar sentados mais um bocadinho, entre risos e debates foi mais um copo deste e foi ainda melhor. 

Muito bom

Mas depois lá tivemos de sair, já éramos os únicos na sala, e não queríamos ser os clientes ‘chatos’ que ficam até tarde, mas na hora de pagar tivemos a falar um bocadinho com o empregado, e pedimos mais um copo de vinho desta vez um vinho branco. 

Penhó Nomos Branco

Castas - Alvarinho e Trajadura

10 % 

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E aqui fica a verdade e sem esconder nada, digo com toda a honestidade que não me lembro mesmo que que achei deste vinho, neste momento a minha maior preparação era estar de pé e parecer uma pessoa séria, algo que consegui na perfeição, acho eu… 

Certeza que gostei deste vinho, lembro-me de ser o preferido do empregado e eu confio nele, por isso, não vão por mim, mas sim por ele. 

E assim terminou esta bela noite no Rolha, um sítio que se tornou paragem obrigatória sempre que visitar o Algarve. 

Fomos tão bem recebidos e acarinhados que me senti literalmente em casa, e que bela sensação é essa, um conforto tremendo que chega a emocionar até os mais fortes. 

Agora, não sei se é a emoção ou o álcool a falar, mas, seja como for, o sentimento é genuíno, prometo.

 

Localização do Rolha- R. António Joaquim Cabrita nº9, 8400-471 Porches

960171681 (É melhor reservarem) 

 

 

 

06
Jun24

A NOITE DE POQUER

Pedro Azevedo

O ambiente estava pesado, havia muita coisa em jogo.

O queijo, o presunto e o pão ligeiramente torrado enfeitavam a mesa, o vinho que tinha trazido decantava, e nas colunas tocava música de casino para criar o ambiente, óculos de sol no rosto, um maço de Português Soft na mão e borrifámos OLD Spice na sala para dar ainda mais a impressão de que estávamos realmente no casino, estavam assim feitos os preparativos para uma boa noite de poquer com amigos, decidimos meter a nossa melhor personagem de jogo.

Começámos cada um com 10 moedas de 20 cêntimos, 5 de 10 cêntimos e 3 moedas de 1 euro, como disse no início do texto, agora já percebem quando digo que havia realmente muita coisa em jogo.

Éramos seis, mas só quatro jogaram, dos que não queriam jogar, um foi nomeado dealer e o outro, empregado, papéis que desempenharam muito bem, já com todos reunidos na mesa, fui eu que comecei, joguei uma moeda de 20 cêntimos e todos decidiram acompanhar

O dealer entregou as cartas, e começou lindamente para mim: na mão, um ás e um valete, ambos de copas, na mesa, dois reis e uma dama, ainda estava confiante na minha mão, coloquei mais uma moeda de 20 cêntimos e metade da mesa desistiu, foi aí que o jogo começou a ficar mais sério, quando o meu amigo colocou um euro na mesa, já nervoso, coloquei também, os olhos estavam todos postos em nós, com o decorrer do jogo e já com todas as cartas na mesa, era hora de mostrar as nossas mãos, eu não tinha nada, mas eu conheço-o bem e tinha quase a certeza de que ele estava a fazer bluff, mas, quando ele olhou-me diretamente nos olhos soltou um sorriso e logo de seguida, disse baixinho, "Desculpa, amigo."

Esse "desculpa, amigo" quebrou-me, sem ele mostrar as cartas, eu já sabia que tinha perdido, e ele lá mostra o seu belo full house, eu, com uma mão tão boa, no final acabei por perder, tirei uma boa lição de vida, nem tudo o que parece certo, é.

Desolado, deixei escapar a próxima ronda e fiz uma pausa, chamei o empregado, queria afogar as mágoas com alguma coisa. Ele chegou ainda a tentar arranjar o pano branco que tinha no antebraço, ele não estava a conseguir encontrar o centro do pano.

  • O que vai ser, senhor? - perguntou-me.

 

  • Trouxe um vinho, está a decantar ja há algum tempo, pode trazer e dizer-me o que sabe sobre ele?

 

  • Claro meu senhor, o vinho que trouxe é um Cem Reis, é um monocasta syrah, um vinho que estagiou 18 meses em barricas de carvalho francês e de carvalho americano. É um vinho expressivo e irresistível, com aroma a amoras, ginja e envolto em especiarias devido ao seu estágio em barrica, assim como notas de chocolate, mentol e alcaçuz, com enologia do António Maçanita.

 

Enquanto ele falava, o jogo parou, todos nós ouvíamos com atenção a bela forma que ele estava a descrever o vinho, e todos pedimos um copo. 

Ele lá entregou, fui o primeiro a ser servido e, de seguida, o resto das pessoas.

No copo, o vinho prometia, e o aroma ia buscar as notas que ele descreveu tão bem, pedi um brinde ao pessoal, e apesar de estarmos todos em personagem de jogo, naquele momento não conseguimos e fomos ao mais puro dos sentimentos, a nossa amizade.

Disse em voz alta: um brinde a nós.

Fechei os olhos e provámos, e o tempo parou por um instante, entrámos numa realidade paralela, até aos dias de hoje não consigo explicar bem o que senti naquele momento, mas foi um sentimento muito bom, devo confessar, um fogo de artifício de sabores que soube ir aos sítios certos. 

Estava tão concentrado no que estava a acontecer que ouvi, lá no fundo, alguém a chamar pelo meu nome, e quando abri os olhos, lá estava ele, o meu amigo, e ele soltou um sorriso, olhou-me diretamente nos olhos e, logo de seguida, disse baixinho: “Obrigado, amigo”.

E voltei a quebrar, mas desta vez, soube muito bem.

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Cem Reis: 4,7/5 

17
Mai24

O ALMOÇO

Pedro Azevedo

No prato, polvo à lagareiro, no copo este vinho, e na mesa uma família que, apesar de ser um pouco disfuncional, de alguma forma até funciona.

Neste almoço, lutava com o meu eu de ontem à noite, estava com uma ressaca de sangria tinta e cerveja, que me estava a impossibilitar de ser considerado um ser humano, mas nisto acho que não tive culpa, os caracóis estavam realmente muito salgados.

Como sou o snobe dos vinhos da minha família, tive o privilégio de ser eu a prová-lo, quando o empregado colocou o vinho no copo, fiz o meu belo teatro, e naquele momento tinha todos os olhos postos em cima de mim, mas fiz um esforço enorme para parecer normal, mexi o copo, fingi perfeitamente que sabia o que estava a fazer, fechei os olhos e levei-o ao nariz para testar o aroma e aí é que me custou, os fantasmas da noite anterior apoderaram-se de mim, veio-me o sabor dos caracóis, lembrei-me da árvore que tinha regado no cais com o meu vômito, que, por consequência, depois disso, lembrei-me que não posso estar com o estômago vazio, e tivemos a brilhante ideia de ir comer um caldo verde às 6 da manhã, e sem esquecer que isto tudo tinha acontecido há sensivelmente 7 horas, depois de tanta memória, voltei à realidade, ao abrir os olhos, já me tinha esquecido que estava num restaurante com toda a minha família, para mim, aquele fechar de olhos demorou uns 20 minutos, mas para eles, segundos, como bom ator que sou, nem suspeitaram que estava brutalmente ressacado. 

E tinha chegado o momento que evitava, colocar mais álcool neste belo corpo… se era uma boa ideia? Não. Mas o que seria do ser humano sem cometer más ideias?

Contei para mim, 3…2…1, respirei fundo e lá meti o vinho a descer pela garganta, e não podia ter descido melhor, aromas de fruta, uma personalidade forte e criou um belo conforto que encantou cada pupila gustativa, é um vinho maravilhoso. 

A primeira coisa que saiu da minha boca foi um "uau", e depois disse, por favor, pode servir o resto das pessoas, e a crítica foi unânime, delicioso.

E além de curar a ressaca fez-me aguentar o almoço e o resto da tarde, mas por volta das 21 já estava na cama. 

Foi com muito agrado e 'esforço' que bebi este vinho, sou um lutador.

Nota - 4,4/5 

 

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12
Mai24

O ARMÁRIO

Pedro Azevedo

Era de tarde, a rádio estava aos altos berros na M80, o palito encontrava-se no canto da boca, e em mim tinha a minha melhor t-shirt de alças branca vestida, e para completar o outfit de um bom trolha tuga só me faltava uma cruz no peito.

E claro, o piropo estava na ponta da língua para encantar quem passasse na rua, sentia que estava finalmente pronto para montar um armário do Ikea.

No meio do processo, decidi abrir esta garrafa de vinho, e embora tanto o vinho quanto o armário pudessem ser melhores e com um pouco mais de qualidade, no final, o que importa é que paguei pouco e estou relativamente satisfeito com as minhas escolhas.

 

Nota: 3.7/5

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11
Mai24

A VIAGEM

Pedro Azevedo

Estava perdido no meio do Alentejo, para trás ficou o cadáver de um coelho que tinha acabado de atropelar.

Cheguei ao restaurante bem recebido por familiares e lá estava esta garrafa em cima da mesa, indeciso no que comer, dei um gole no vinho e lá optei por uns secretos de porco preto, a minha mãe, que estava ao meu lado, pediu coelho e fiquei logo entristecido com o que tinha acontecido antes, um sentimento de culpa assombrou-me, deveria ter travado? Será que ele morreu mesmo? Entre questões, dei goles no vinho, e fui ficando melhor.

É um vinho bastante agradável. 

Nota: 3,6/5

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